Maximilian Karl Emil Weber (1864-1920) *
Ambiente familiar
Nascido em 1864, na cidade de Erfurt, Turíngia, na Alemanha, Weber cresceu em um ambiente burguês, em meio a uma família marcada por tradições intelectuais e uma forte influência protestante. Seu pai, Max Weber Sênior, era um jurista e político ativo, o que introduziu Weber desde cedo nos círculos políticos e intelectuais da Alemanha. Sua mãe, Helene Fallenstein Weber, proveniente de uma família de professores e funcionários públicos, trouxe para o ambiente familiar um ethos protestante de rigor moral e intelectual (Gerth; Wright-Mills, 2010).
Infância e juventude
A infância e juventude de Weber foram moldadas por essa atmosfera cultural e política rica. A família mudou-se para Berlim em 1869, onde seu pai desempenhou um papel significativo na política local. Weber cresceu cercado por importantes figuras intelectuais da época, como Wilhelm Dilthey e Theodor Mommsen, o que favoreceu seu desenvolvimento precoce em termos intelectuais. Desde jovem, Weber demonstrou uma grande afinidade com o estudo, preferindo os livros a outras atividades comuns para sua idade. Sua formação foi marcada por um interesse profundo em história, direito e economia, disciplinas que mais tarde formariam a base de sua obra acadêmica.
Contexto social e político
O contexto social e político da Alemanha no final do século XIX e início do século XX impactou diretamente o desenvolvimento do pensamento de Weber. Esse período foi marcado por intensas transformações econômicas e sociais, com a rápida industrialização do país e a consequente mudança na estrutura social. A Alemanha, que estava em transição de uma sociedade agrária aristocrática para uma potência industrial, enfrentava também os desafios de uma modernização acelerada e os impactos da Primeira Guerra Mundial. Esse cenário de instabilidade e mudança constante influenciou a forma como Weber via a organização da social e o papel que os indivíduos e as instituições desempenhavam neste arranjo.
Influências e desenvolvimento intelectual
Weber tornou-se uma figura central no debate sobre o papel da burocracia e da racionalidade na sociedade moderna. Sua visão de uma sociedade em que as relações sociais eram cada vez mais mediadas por instituições burocráticas e racionalizadas foi pioneira e continua a ser um dos pilares da sociologia moderna. Ele via a burocracia como uma forma de organização social que, embora eficiente, poderia se tornar desumanizante e levar à “gaiola de ferro” (Stahlhartes Gehäuse) da racionalidade (Ringer, 2000). Essa visão crítica foi desenvolvida em um momento em que a Alemanha estava lidando com as consequências da industrialização e da modernização, que transformaram a vida social e econômica do país.
A obra de Weber também foi fortemente influenciada por sua experiência pessoal e por sua família. A influência do seu ambiente familiar — ligado ao comércio internacional e à burguesia industrial — é evidente em seu interesse pelas questões econômicas e em sua análise do capitalismo. Weber cresceu em um ambiente cosmopolita, familiarizado com a dinâmica do comércio e das finanças internacionais, o que o preparou para suas análises profundas sobre o capitalismo e a economia mundial (Roth, 2002).
Weber também foi marcado por suas vivências acadêmicas e militares. Estudou direito em Heidelberg, onde também foi influenciado pela prática dos duelos, comum entre os estudantes da época. Após um período de serviço militar em Estrasburgo, Weber voltou-se para a academia, desenvolvendo um interesse particular pela história econômica e jurídica. Sua tese de doutorado, defendida em 1889, abordou a história das companhias de comércio na Idade Média, revelando já nessa época seu interesse por como as instituições econômicas e legais moldam a sociedade (Gerth; Wright-Mills, 2010).
Legado
A vida intelectual de Weber foi intensamente produtiva, apesar de ter sido marcada por períodos de doença que o afastaram temporariamente da academia. Mesmo assim, ele produziu algumas das obras mais influentes da sociologia, incluindo “A Ética Protestante e o ‘Espírito’ do Capitalismo”, na qual, explora como a ética protestante contribuiu para o desenvolvimento do capitalismo de tipo ocidental e moderno. Além disso, Weber também abordou temas como a autoridade, a burocracia, a racionalização e a sociologia da religião, deixando um legado que continua a ser estudado e debatido amplamente.
Weber faleceu em 1920, mas sua influência continuou a crescer após sua morte, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando suas obras foram amplamente divulgadas e começaram a ser reconhecidas como fundamentais para a sociologia moderna. Sua esposa, a socióloga Marianne Weber foi a principal responsável por sua permanência e longevidade intelectual ao assumir a curadoria do espólio do marido após o seu falecimento, garantindo a publicação e gerenciamento da obra. A recepção de seu trabalho foi particularmente significativa nos Estados Unidos, onde intelectuais como Talcott Parsons ajudaram a popularizar suas ideias (Schwinn, 2020). Weber é hoje lembrado como um dos fundadores da sociologia, cujas análises profícuas sobre a sociedade moderna continuam a ser relevantes e influentes.
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*Este verbete geral não deve ser considerado uma biografia no sentido do termo, ele apresenta uma versão resumida do tópico Max Weber entre os “Mandarins Alemães”, que abre a minha tese de doutorado (Carvalho, 2022) sobre a circulação internacional da obra weberiana.
Referências Bibliográficas
CARVALHO, Marcio J. R. de. Max Weber no Brasil e no mundo: sociologia da circulação internacional (1889-2020) e da recepção nacional brasileira (1925-2015) das obras weberianas. 2022. 360 f. Tese (Doutorado) - Curso de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política, Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política, Universidade Federal de Sta. Catarina, Florianópolis, 2022. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/234745 . Acesso em: 05 ago. 2024.
GERTH, H. H.; WRIGTH–MILLS, C. Escorço Biográfico. In: Ensaios de sociologia. DUTRA, Waltensir (Trad.). 5. ed. [reimp.]. Rio de Janeiro: LTC, 2010. p. 03–22.
RINGER, Fritz K. O declínio dos mandarins alemães: a comunidade acadêmica alemã, 1890–1933. São Paulo: Edusp. (Col. Clássicos). 2000.
ROTH, Guenther. “Max Weber: Family History, Economic Policy, Exchange Reform. International Journal of Politics, Culture, and Society, Berna, n. 15, 2002, pp. 509–520. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102–69922002000100005. Acesso em 14 Mai 2024.
SCHWINN, T. Klassikerdämmerung. 100 Jahre Max Weber im Kontext der Soziologiegeschichte und des aktuellen Zustandes unserer Disziplin. KZfSS Kölner Zeitschrift für Soziologie und Sozialpsychologie. 72, 351—381 (2020). Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11577–020–00709–9 Acesso em 14 Jul 2024.
Como citar este verbete:
CARVALHO, Marcio J. R. de. Weber, Max: Verbete. In: Enciclopédia Max Weber. 2024. Disponível em: https://www.enciclopediamaxweber.org/%C3%ADndice-geral-de-entradas/weber-max. Acesso em: dd.mm.aaaa.