Definição
No pensamento de Max Weber, a guerra é compreendida como um fenômeno que não se dá de forma isolada ou espontânea, mas ocorre entrelaçado às dinâmicas políticas, sociais e econômicas das estruturas de poder. Historicamente, as guerras têm sido motivadas por uma combinação destes fatores, como a expansão territorial, a luta por prestígio e a disputa por recursos entre as nações. Mesmo recorrendo à história da Antiguidade, Weber (2010) constata que o controle militar de terras férteis e de rotas comerciais sempre desempenhou um papel central na política expansionista de Estados e impérios.
Guerra e território
Um ponto essencial na análise de Weber é a relação entre guerra e território. A posse e o controle de terras tem sido um dos principais motores das guerras, especialmente quando relacionada à necessidade de sustento econômico de populações crescentes. A guerra, nesse contexto, servia para garantir o controle sobre regiões férteis e estrategicamente valiosas. Weber observa que, por exemplo, a expansão romana foi impulsionada, em parte, pela necessidade de conquistar terras agricultáveis e explorar seus habitantes, seja através da escravização ou da tributação, pontos sobre os quais ele afirma: “Essas características estão arraigadas nos interesses capitalistas dos arrendatários de impostos, dos credores do Estado, dos fornecedores do Estado, dos comerciantes com o além-mar privilegiados pelo Estado e dos capitalistas coloniais”, todos com grande interesse nas “oportunidades de lucro”, possibilidades que repousariam “na exploração direta dos poderes executivos, isto é, do poder político dirigido para a expansão” e, complementa, “oportunidades tremendas de lucro” que são desdobradas aos grupos de interesses capitalistas através da aquisição das colônias (Weber, 2010, p. 196).
A guerra e o prestígio do poder
A guerra, no entanto, não está restrita aos objetivos econômicos. Weber também analisa o papel do prestígio e da luta por prestígio nas motivações para a guerra. Para as elites políticas e militares, a vitória em conflitos militares traz não apenas ganhos econômicos, mas também aumenta a legitimidade e o prestígio tanto interna quanto externamente. Ele argumenta que o “prestígio do poder, como tal, significa na prática a glória do poder sobre outras comunidades; significa a expansão do poder, embora nem sempre pela incorporação ou sujeição. As grandes comunidades políticas são as bases naturais dessas pretensões de prestígio” (Weber, 2010, p. 189). Assim, a guerra se torna também um meio de engrandecer a posição de um Estado no cenário internacional, fortalecendo sua imagem e assegurando sua posição de liderança entre as nações e, além disso, o prestígio do poder também se irradia internamente, de modo que, em muitos casos, a guerra como expressão de poder é parte integrante das dinâmicas internas das elites políticas, oferecendo oportunidades de promoção para os oficiais e maior poder político para as elites que a conduzem. Mesmo em casos de guerras perdidas, as elites podem se beneficiar simbolicamente das oportunidades criadas pela guerra, como novos cargos e honrarias, fortalecendo assim sua posição dentro da estrutura de poder existente.
A guerra como meio para adquirir recursos
Além do controle de terras, a guerra também foi um meio para adquirir recursos. Nos impérios modernos, a obtenção de matérias-primas e o controle das rotas comerciais globais foram fatores determinantes para a expansão militar. Weber analisa como o capitalismo imperialista, especialmente o colonialismo predatório, ofereceu oportunidades muito maiores de lucro para as elites do que o comércio pacífico. O controle direto de territórios, muitas vezes através da força, permitiu a exploração econômica de suas populações e a monopolização de recursos estratégicos. Ele descreve o processo de imperialismo como uma ação movida pelo interesse econômico em oportunidades de lucro através de “contratos para compra de armas; da construção de estradas de ferro e outras obras realizadas pelo Estado”, ou, ainda, por meio de “construtores dotados de direitos de monopólios; das concessões monopolistas para a coleta de impostos do comércio e indústria; e dos empréstimos governamentais” (Weber, 2010, p. 198).
Colonialismo e imperialismo
O colonialismo foi, portanto, uma expressão clara desse impulso expansionista, uma vez que as potências coloniais europeias estabeleceram domínios extensivos em territórios ultramarinos com o objetivo de explorar economicamente essas regiões. As colônias serviam tanto como fontes de matéria-prima quanto como mercado para produtos manufaturados. As elites metropolitanas, que controlavam a economia e as forças militares, incentivavam e financiavam as guerras coloniais, de modo que as colônias eram vistas como partes essenciais de um projeto maior de imperialismo, uma forma de dominação que consolidava o poder político e o poder econômico de um Estado sobre territórios e populações estrangeiras. Weber distingue o imperialismo como um sistema que não se limita à dominação militar, mas inclui a criação de administrações burocráticas e a exploração sistemática dos recursos locais. Para ele, o capitalismo colonial predatório, baseado na força e no trabalho escravo compulsório, proporcionava as maiores oportunidades de lucro, excedendo em muito o que seria possível por meio de uma economia comercial pacífica. O papel das estruturas políticas, nesse contexto, era assegurar as condições para a perpetuação desse sistema, utilizando-se tanto da força quanto da legitimidade política e jurídica.
Referências Bibliográficas
Weber, M. Estruturas do Poder. In: Weber, M. Ensaios de sociologia. Gerth, H. H.; Wrigth–Mills, C. (Orgs.). Dutra, Waltensir (Trad.). 5. ed. [reimp.]. Rio de Janeiro: LTC, 2010c. p. 187-210.
Como citar este verbete:
CARVALHO, Marcio J. R. de. Guerra: Verbete. In: Enciclopédia Max Weber. 2024. Disponível em: https://www.enciclopediamaxweber.org/%C3%ADndice-geral-de-entradas/guerra Acesso em: dd.mm.aaaa.