Contexto
A industrialização da Alemanha foi promovida pelo Estado, o que levou o país a um caminho de modernização diferente daquele percorrido pela Inglaterra, cuja industrialização foi liderada pela burguesia. A modernização tardia da Alemanha pela via administrativa acabou por aumentar “o tamanho da importância da burocracia executiva na sociedade e no Estado alemão” (SELL, 2006, p. 208). Weber estava preocupado com a crescente burocratização da condução da vida política. As decisões estavam engessadas e a condução da vida político-administrativa estava nas mãos de uma elite agrária (os Junkers), uma “elite política do império que agia de modo irresponsável” desde o início da I Guerra Mundial, (Schluchter, 2014b, p. 163). A presença forte do Estado alemão colocava obstáculos para maturidade da democracia, questão que Weber já havia abordado em O Estado-nação e a política econômica (1895) e voltou a enfrentar em Parlamento e governo na Alemanha reorganizada (1917), O Presidente do Reich (1919) e Política como Profissão (1919). Em termos amplos, para Weber, as possibilidades na renovação das estruturas administrativas, lideradas por políticos profissionais, trariam agilidade e inovação na condução do Estado.
Definição
Conforme Schluchter (2014b, p. 161), a questão desse político profissional “possui um lado institucional (forma) e um lado cultural mental (espírito)” e, ainda, “[...] Procuram-se tanto os traços de uma ordem política, quanto as características de um político, bem como suas relações mútuas”. Dentro da teoria da autoridade de Max Weber a dominação carismática — menos racionalizada, fundamentada na crença nos dons pessoais de um determinado indivíduo — teria maior força na escolha de líderes pelas massas. Em Política como profissão, Weber (2010a; 2011) observa que, primeiramente, esse político profissional — um “Chefe político”, sobretudo, carismático — precisaria enfrentar certos entraves e dificuldades para emergir na Alemanha: 1) a importância demasiada do funcionário de carreira (burocrata estatal) 2); a impotência do parlamento, diante da máquina administrativa; 3) partidos dotados de doutrina (Weber, 2010a; 2011; 2015).
Já em 1919, Weber havia rompido com a ideia de que o Parlamentarismo seria o melhor sistema de governo para o novo Estado, pois “a ordem política do Império Alemão entrava em colapso, mas uma nova ainda não fora imposta” (Schluchter, 2014b, p. 159). Weber, fortemente influenciado pelo desenvolvimento dos EUA, estava convencido de que o Presidencialismo plebiscitário seria a melhor opção para a Alemanha. Pairava no imaginário alemão a ideia de que a fundação de um Estado nacional “impunha o dever histórico de que ele agisse como potência estatal no meio das demais potências da Europa”, contudo, com a saída de Bismarck da liderança política do Estado, essa ideia perdera seu fôlego, pois, para realizar essa tarefa, “faltava às elites políticas uma relação realista com o poder”, principalmente em se levando em conta que a ausência de Bismarck cria um “vácuo de liderança” (Schluchter, 2014b, p. 165-166). Ao final de sua conferência, Weber faz uma curiosa alegoria para a qual Schluchter (2014b, p. 162) chama a atenção: “duas coisas” consubstanciariam ethos desse novo e necessário político profissional: “[1] aspiram ao impossível para alcançar o possível, [2] com uma consciência de que se pode fracassar” (Weber, 2011, p. 157).
Ética na política
Para Weber (2010a; 2011; 2015), existia um conflito entre dois tipos de ética na política: de um lado, a ética da convicção, segundo a qual, políticos colocavam seus interesses (ou de seus partidos) à frente de suas responsabilidades. Por outro lado, no caso dos políticos regimentais e dos funcionários administrativos, haveria uma sobrecarga na ética de responsabilidade, expressão de um comportamento profissional, segundo o qual as responsabilidades devem ser colocadas acima das convicções pessoais, daí a necessidade do surgimento de uma nova categoria de políticos profissionais capazes de dinamizar a condução política, e que não apenas estejam afeitos às suas demandas pessoais e ideológico-partidárias (a ética da convicção), mas que incorporem as demandas públicas (ética da responsabilidade). Estas éticas não seriam excludentes, Weber “combate o político movido apenas pela ética da convicção, mas, igualmente, o político realista que, na atividade política, se contentasse apenas com o exercício da arte do possível” Schluchter (2014b, p. 182). Portanto, não é o realismo político estrito que preencherá a ausência de uma liderança, mas sim a ética da responsabilidade, que estaria posicionada “extremamente no meio da ética da convicção e do realismo”. O político que adota essa forma de ética seria aquele que adotaria interpretação da realidade pela via realista, “orientada para o êxito”, porém a articularia “em relação com convicções de valor, o que o mero realismo não político não considera” (Schluchter, 2014b, p. 183). Weber julga como qualidades essenciais para aqueles que pretendem dedicar-se à política a “paixão” e “sentimento de responsabilidade”, mediados por um “senso de proporção”, que seria “a qualidade psicológica fundamental do homem político” (Weber, 2011, p, 133). É esse o perfil de político profissional que, no seu entendimento, seria o tipo de político adequado à gestão do Estado moderno. Nesse sentido, estas duas éticas não deveriam ser excludentes, mas complementares.
Referências Bibliográficas
Weber, M. Parlamento e governo na Alemanha reorganizada: sobre a crítica política do funcionalismo e do partidarismo. In: Escritos Políticos. São Paulo: Editora da Folha. [1917] 2015. (Grandes Nomes do Pensamento. v. 19).
Schluchter, W. O contexto da conferência Política como Profissão. In: Schluchter, W. O desencantamento do mundo: seis estudos sobre Max Weber. Trad. e Apres. Sell, Carlos E. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2104b. p. 158-191.
Sell; Carlos E. Sociologia Clássica. UNIVALI. Itajaí. 4. ed. 2006.
Weber, Max. A Política como vocação. In: Ciência e política: duas vocações. 18. ed. São Paulo: Cultrix, [1919] 2011.
Weber, M. A Sociologia da Autoridade Carismática. In: Weber, M. Ensaios de sociologia. Gerth, H. H.; Wrigth–Mills, C. (Orgs.). Dutra, Waltensir (Trad.). 5. ed. [reimp.]. Rio de Janeiro: LTC, 2010b. p. 283–307.
Weber, M. A Política como vocação. In: Weber, M. Ensaios de sociologia. Gerth, H. H.; Wrigth–Mills, C. (Orgs.). Dutra, Waltensir (Trad.). 5. ed. [reimp.]. Rio de Janeiro: LTC, 2010a. p. 97–153.
Como citar este verbete:
CARVALHO, Marcio J. R. de. Político Profissional: Verbete. In: Enciclopédia Max Weber. 2024. Disponível em: https://www.enciclopediamaxweber.org/%C3%ADndice-geral-de-entradas/pol%C3%ADtico-profissional Acesso em: dd.mm.aaaa.