Contexto
Em 1904, Max Weber, Edgar Jaffé e Werner Sombart assumiram a redação da revista científica Archiv für Sozialwissenschaft und Sozialpolitik [Arquivo de Ciências Sociais e Política social]. O texto de Max Weber que chega à público brasileiro sob título de A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais — no original, Die “Objektivität” Sozialwissenschaft Lehre und sozialpolitischer Erkenntnis e que, em uma tradução mais rigorosa, epistemologicamente, Sell (2020) nos apresenta o título “Objetividade do Conhecimento sócio-científico e sócio-político” é um artigo redigido por Weber para apresentar aos leitores do Archiv a linha editorial e orientações gerais para autores que a revista assumiria. Além disso, por consequência, artigo também apresentou os pontos nucleares da conduta e o tipo de epistemologia de seu próprio redator. Ali, Weber discutiu a importância e os desafios de se alcançar a objetividade nas ciências sociais, enfatizando a necessidade de uma abordagem que separe claramente os fatos das avaliações valorativas, ou seja, o juízo de fato e o juízo de valor, sem a interferência de valores subjetivos, ideológicos ou culturais.
Metodologia
A objetividade enfrenta desafios significativos nas ciências sociais devido à complexidade da realidade social e à influência de fatores subjetivos na interpretação dos dados. É preciso esclarecer que, desde o início, Max Weber reconhece que seja difícil alcançar uma completa objetividade, além de dar indicações de que não é esta a sua proposta. Não se trata de pedir aos cientistas que abram mão de seus valores e se tornem “neutros”, afinal, as próprias inclinações valorativas e ideológicas podem influenciar as escolhas dos pesquisadores por determinados tipos de problemas de pesquisa.
A recomendação que segue é dupla: que os cientistas sociais se submetam ao rigor metodológico se esforçando para manter uma distância crítica de suas próprias crenças e valores ao estudar fenômenos sociais, e compreendam que não é papel da ciência emitir juízos normativos. Sobre este último ponto, Weber orienta que cabe a ciência dizer como as coisas são ou como podem ser, e não como elas devem ser. Ele também propõe a “neutralidade” axiológica, que sugere que os pesquisadores devem evitar que seus juízos de valor influenciem a análise científica.
Aplicação
O autor destaca que submeter-se a um crivo metodológico rígido não significa que as ciências sociais (ou “ciências da cultura”) devam adotar os métodos das ciências naturais, pois os fenômenos observados em ambas se diferem de modo formal e substantivo. Nas ciências humanas, o interesse do pesquisador condiciona o caráter do fenômeno socioeconômico, e esse interesse é definido com base no significado cultural atribuído pelo pesquisador. Diferentemente das ciências naturais, não se pode esperar respostas, exatas, normativas ou ideais obrigatórias nas ciências humanas. O objeto de estudo nessas ciências é mutável e, portanto, o pesquisador trabalha com padrões e pressupostos em sua análise que exigem abordagens metodológicas específicas. Nesse sentido, Weber propôs o uso de tipos ideais, abstrações teóricas que representam padrões ideais de comportamento, como ferramentas metodológicas para a compreensão da ação social e a busca pela validade objetiva do conhecimento nas ciências da cultura.
Weber enfatizou a importância da compreensão (Verstehen) na pesquisa social, que impactou diretamente na elaboração de sua sociologia compreensiva. Isso implica em entender o significado subjetivo das ações e motivações dos indivíduos. A objetividade, nesse contexto, não significa ignorar a subjetividade, mas sim interpretá-la de forma cuidadosa e sensível. O cientista social deve se colocar no lugar do outro para compreender suas ações. Ao considerar a ciência como vocação, Weber entendia que cabe aos cientistas sociais reconhecerem sua responsabilidade ética e intelectual pela busca do conhecimento objetivo, tornando-se consciente de suas próprias influências no campo cultural que habita e às quais está constantemente exposto.
Referências Bibliográficas
COHN, G. Apresentação: o sentido da ciência. In: WEBER, M. A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais. Org. Gabriel Cohn. São Paulo: Ática, 2010. p. 7–12.
Sell, Carlos E. Para além do mal entendido da “neutralidade axiológica”: o modelo crítico de Max Weber. In: Seneda, Marcos C.; Custódio, Henrique F. Faria (org.). Ciência como vocação: racionalidades e irracionalidades no velho e no novo mundo. Porto Alegre: Editora Fi, 2020. Cap. 1. p. 19-56. Disponível em: https://philarchive.org/archive/SENCCV. Acesso em: 20 abr. 2024.
WEBER, M. A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais. Org. Gabriel Cohn. São Paulo: Ática, 2010.
Como citar este verbete:
CARVALHO, Marcio J. R. de. Objetividade: Verbete. In: Enciclopédia Max Weber. 2024. Disponível em: https://www.enciclopediamaxweber.org/%C3%ADndice-geral-de-entradas/objetividade Acesso em: dd.mm.aaaa.