Definição
Por sua ocorrência histórica, o conceito de estamento caracteriza uma estratificação mais rígida dentro da organização social feudal, na Idade Média, onde a sociedade era dividida em monarquia, nobreza, clero, guildas de comerciantes e artesãos, e servos (camponeses, na maioria). Max Weber ampliou a ideia de estamento para além de um corpo social estratificado supostamente homogêneo, elaborando uma definição das formas complexas de estratificação social que comportam as divisões econômicas, mas, vão além, compondo um entrelaçamento das relações sociais de colaboração e concorrência por status, estilos de vida, consumo de bens e a distribuição de honra e prestígio. Na conceituação de Weber (2015b), a ideia de “estamento” corresponde a “uma pluralidade de pessoas que, dentro de uma associação, gozam efetivamente” os seguintes privilégios: i) de consideração estamental especial; ii) de monopólios estamentais especiais (Weber, 2015b, p. 202).
Características
Os estamentos são a uma forma de estratificação social que se situa entre a classe social e a casta, de modo que os estamentos possuem menor possibilidade de mobilidade social que o primeiro grupo, contudo, maior possibilidade de mobilização do que o segundo. Caracterizam-se pela capacidade de consumo de bens e estilos de vida específicos ou similares (quando do mesmo tipo) e se colocam na disputa pelas honras e pelo prestígio na da ordem social. Além disso, Weber também indica que a sociedade do tipo estamental é, também, de tipo “convencional”, isto é, “regulada por normas de modo de vida” (Weber, 2015b, p. 203). Pertencer a um estamento significa ter determinados privilégios, mas também proibições, como a impossibilidade de realizar certos tipos de trabalho ou de contrair matrimônio dentro de camadas sociais consideradas em diferentes nivelamentos de status (ou mesmo o oposto, a obrigação do matrimônio entre pessoas de níveis considerados iguais).
Situação estamental
Em Economia e Sociedade, Weber denominou “situação estamental um privilegiamento típico positivo ou negativo quanto à consideração social, eficazmente reivindicado” (Weber, 2015b, p. 202, grifo do autor). Este privilegiamento está baseado em: i) no modo de vida; ii) no modo formal de educação (empírico ou racional); iii) no prestígio que deriva da descendência ou da profissão.
Importância do Status
Para Weber, uma sociedade que se orienta e se estrutura “preferencialmente” pelos estamentos é do tipo “estamental”, enquanto aquela que se orienta e se estrutura pelas classes é de tipo “classista” e, dentro das sociedades classistas, o tipo de classe que mais se aproximaria da estamental seria a “classe social” e a que mais se distanciaria seria a “classe aquisitiva”, contudo, em sua maioria, a constituição mais frequente dos estamentos, ainda segundo Weber, seria a do tipo “classes proprietárias” (Weber, 2015b, p. 203). Coluna mestra e fenômeno típico da estratificação por estamentos, o status social implica na aquisição e manutenção de honra e privilégios e, neste sentido, a ideia de “status” se diferencia do conceito de “classes sociais” na forma como é acionado por Karl Marx. Ainda que Weber tenha afirmado que o “[...] lugar autêntico das ‘classes’ é no contexto da ordem econômica, ao passo que os estamentos se colocam na ordem social” (Weber, 2010c, p. 136), ele oferece uma visão mais complexa, do que aquela apresentada por Marx, que via a relação entre as classes de proprietários e de trabalhadores proletários como modo de exploração da força de trabalho. Na compreensão de Weber, a posição de classe social equivale à posição que os indivíduos ocupam dentro da escala de estratificação social, e ela pode ser medida por alguns indicadores, como o patrimônio, ganhos por pagamento, renda e oportunidades financeiras e poder de compra. Como pontua Weber, as classes “se estratificam de acordo com suas relações com a produção e aquisição de bens” e, por outro lado, os estamentos “se estratificam de acordo com os princípios de seu consumo de bens, representado por ‘estilos de vida’ especiais” (Weber, 2010c, p. 135). O status relacionado às classes sociais não é medido apenas pela divisão do trabalho e pelo arranjo dos meios de produção, mas também pelo tipo de trabalho (ocupação), pela capacidade de consumo e pelo estilo de vida, já que o lugar que o indivíduo ocupa nos arranjos do mundo social é resultado da combinação do seu prestígio, sua riqueza e seu exercício ou participação do poder.
Referências Bibliográficas
Weber, M. Classe, Estamento, Partido. In: Weber, M. Ensaios de sociologia. Gerth, H. H.; Wrigth–Mills, C. (Orgs.). Dutra, Waltensir (Trad.). 5. ed. [reimp.]. Rio de Janeiro: LTC, 2010c. p. 123-137.
Weber, M. Estamentos e Classes. In: Weber, M. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. (Trad.) Barbosa, R. e Barbosa, K. E. 4. ed. Brasília: Unb, 2015b. p. 199-206.
Como citar este verbete:
CARVALHO, Marcio J. R. de. Estamentos: Verbete. In: Enciclopédia Max Weber. 2024. Disponível em: https://www.enciclopediamaxweber.org/%C3%ADndice-geral-de-entradas/estamentos Acesso em: dd.mm.aaaa.