Introdução
A conferência realizada por Max Weber para estudantes e docentes da Universidade de Munique — meio à Revolução Alemã (1918-1919) — ficou conhecida textualmente como Politik als Beruf (Política como vocação [ou, profissão]), um importante marco da teoria weberiana em duas dimensões, a científica (compreensão sociológica objetiva) e a pública (posicionamento do homem político), ou, nas palavras de Schluchter (2104b, 160) “tanto uma reflexão teórica quanto um posicionamento prático”. Na dimensão científica, por duas razões: i) Weber definiu sociologicamente a política e expôs uma distinção entre relações de poder e autoridade e as relações de dominação com base em legitimidade; ii) e também traçou um perfil do político profissional e da ética na política. Já na dimensão pública, diferentemente dos posicionamentos anteriores em favor do Parlamentarismo – como o famoso Parlamento e governo na Alemanha reorganizada (1917) —, Weber defendeu abertamente a democracia via Presidencialismo plebiscitário, debatendo as estruturas do Estado, a democracia e o papel dos partidos políticos e da liderança carismática frente à burocracia.
Definição de Política
Para Max Weber, a política é a luta pelo poder dentro de um Estado ou entre diferentes Estados e a política, portanto, envolve a busca e a manutenção desse poder. Ele define o Estado como um agrupamento político que detém o monopólio legítimo do uso da força física dentro de um território definido e o centro de sua análise política é a administração do aparato do Estado burocrático de tipo ocidental e moderno. Para tanto, Weber discorre sobre as origens desse tipo de Estado.
Poder, autoridade, dominação e legitimidade
Durante sua palestra, Weber apresenta publicamente as definições de “poder” e “dominação” que, posteriormente, seriam incorporadas ao 16º parágrafo dos Conceitos sociológicos fundamentais (Weber, 2015a): “O conceito de ‘poder’ é sociologicamente amorfo” e, ainda, “Todas as qualidades imagináveis de uma pessoa e todas as espécies de constelações possíveis podem pôr alguém em condições de impor sua vontade, numa situação dada”, de modo que “o conceito sociológico de ‘dominação’ deve ser mais preciso e só pode significar a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem” (Weber, 2015c, p. 33, grifo do autor). Para Weber, a questão da autoridade da estrutura da dominação depende diretamente do reconhecimento e da manutenção da sua legitimidade pelos indivíduos.
Político profissional
Weber estava preocupado com a crescente burocratização da condução da vida político-administrativa que estava nas mãos de uma elite agrária desinteressada (Junkers). O crescimento do Estado, e da complexidade de seus problemas, colocava entraves para a democracia e a reduzia apenas a uma forma de seleção de representantes por sufrágio. Para Weber, a renovação das estruturas administrativas traria agilidade e inovação na condução do Estado. Contudo, Weber enxergava algumas dificuldades para o surgimento do político profissional na Alemanha: 1) impotência do parlamento que não representou seu papel de celeiro de líderes, diante da máquina administrativa; 2) importância do funcionário de carreira (burocrata estatal); 3) partidos dotados de demasiada doutrina política (ética da convicção).
Ética de Convicção vs. Ética de Responsabilidade
Weber aponta para a necessidade do surgimento de uma nova classe de políticos profissionais adequados à ética na política e à gestão do Estado moderno e que incorporem as demandas públicas. Para tanto, é preciso um equilíbrio entre a “ética de convicção” — demandas e paixões pessoais e partidárias, convicções morais e ideológicas, independentemente das consequências —, e a “ética de responsabilidade” — na qual o governante leva em consideração as consequências de suas escolhas e assume a responsabilidade pelos efeitos sobre a sociedade. Nesse sentido, Weber juga qualidades daqueles que pretendem dedicar-se à política: a paixão, o sentimento de responsabilidade, e o senso de proporção entre as duas primeiras, considerando que as formas éticas invertidas – não defender causa alguma e não ter sentimento de responsabilidade – seriam “pecado mortais” na política, conquanto, as éticas da convicção e da responsabilidade não seriam excludentes, mas complementares, matéria última da “vocação política” (Weber, 2011, 157).
Parlamentarismo e Presidencialismo
Se em seus primeiros escritos Weber considerava que o Parlamentarismo seria um sistema funcional, pois assumiria o papel de fomentador na renovação de líderes, posteriormente, ele entende que o Presidencialismo seria a melhor opção, pois colocaria a execução pública nas mãos de um líder eleito pelas massas. Um líder carismático, com condições de transitar pela rigidez burocrática da administração estatal.
Papel dos Partidos e Agrupamentos Políticos
Os partidos políticos, segundo Weber, são organizações que buscam influenciar a distribuição do poder dentro de um Estado. Eles são essenciais para a democracia, pois representam diferentes interesses e ideologias da sociedade. A alternância de partidos no poder é crucial para evitar a corrupção e garantir a responsabilidade dos governantes. Além dos partidos, Weber reconhece a importância dos agrupamentos políticos, que podem incluir coalizões, movimentos sociais e outras formas de organização política. Esses agrupamentos desempenham um papel vital na mobilização de apoio e na formação de alianças estratégicas para alcançar objetivos políticos. Nesse sentido, o papel dos partidos e agrupamentos políticos é basilar para a dinâmica do poder e a saúde da democracia.
Referências Bibliográficas
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Weber, M. Conceitos sociológicos fundamentais. In: Economia e sociedade: Fundamentos da sociologia compreensiva. Barbosa, R. e Barbosa, K. E. (Trad.). v1. Cap. 1. 4. ed. Brasília: Unb, 2015a [1921].
Como citar este verbete:
CARVALHO, Marcio J. R. de. Política: Verbete. In: Enciclopédia Max Weber. 2024. Disponível em: https://www.enciclopediamaxweber.org/%C3%ADndice-geral-de-entradas/pol%C3%ADtica Acesso em: dd.mm.aaaa.