Definição
A sociologia compreensiva de Max Weber se posiciona no debate da virada do sec. XX sobre a diferença de conduta metodológica entre as ciências humanas e as ciências naturais. É na primeira parte de Economia e Sociedade, a qual compreende os textos da fase mais madura de Weber, que encontraremos a melhor definição sobre a sua sociologia compreensiva (Verstehende Soziologie), no Capítulo I, Conceitos Sociológicos Fundamentais (Soziologische Grundbegriffe), de 1921. Nas palavras do autor (Weber, 2015a, p. 06), em meio a “luta de sentidos” dos mais variados casos envolvendo ações sociais, “compreensão” significa “apreensão interpretativa do sentido ou da conexão de sentido”. Como esperado, a versão madura traz, de acordo com Schluchter (2014d), uma concepção mais bem finalizada e com um léxico mais “refinado” do que aquele encontrado na versão anterior, de 1913, Sobre algumas categorias da Sociologia Compreensiva (Über einige Kategorien der Verstehenden Soziologie).
Fundamentos Teóricos
Além da influência do idealismo kantiano — segundo o qual o conhecimento não seria capaz de desvendar a essência da realidade, mas apenas fragmentos (fenômenos) que passíveis de captação por meio dos sentidos —, a sociologia compreensiva se ancora em outras fontes metodológicas e epistemológicas. Nas Notas Preliminares dos seus Conceitos Sociológicos Fundamentais, Weber (2015a) indica as principais influências de suas concepções metodológica e epistemológica tanto da escola do pensamento do neokantismo — com base em Windelband, Dilthey, Rickert, e a necessidade de distinguir as ciências sociais das ciências naturais —, quanto do pensamento social alemão, em diálogo com outros autores como Tönnies, Simmel, Sombart e Troltsch.
Max Weber desenvolveu a sociologia compreensiva no contexto de sua crítica ao positivismo e ao materialismo histórico (sobretudo ao seu aspecto teleológico) e sua metodologia comparativa é praticamente uma resposta aos positivistas sobre a infinitude do universo social e cultural, a qual não pode ser conhecida, medida e explicada através da elaboração de leis gerais, como nas ciências da natureza. A partir da compreensão interpretativa da ação social dos indivíduos — dotadas de sentidos e significados que orientam o comportamento humano atribuídos pelos próprios agentes (subjetividade) —, torna-se possível estabelecer paralelos entre diferentes “realidades”, o que distingue esta opção daquela praticada nas abordagens positivistas que focam em explicar os fenômenos sociais por meio de leis gerais (que na virada para o séc. XX quase sempre estavam atreladas a uma visão evolucionista do mundo social). Weber também compartilhava com os neokantianos da necessidade de as ciências sociais terem métodos diferentes das ciências naturais — não há “razão de ser” para os estudos “objetivos” nas ciências sociais dos “acontecimentos culturais” (Weber, 2003, p. 96), contudo, não acreditava que os cientistas sociais devessem abrir mão completamente da metodologia das ciências naturais ou da objetividade. O uso de métodos estatísticos, por exemplo, pode auxiliar a sociologia na análise de tendências.
Aplicação
Weber observa os fenômenos culturais na convivência humana e na elaboração que as pessoas dão à ordem social e às formas condução de vida por meio da intersecção de ideias e interesses e instituições (Schluchter, 2014a). A conduta da sociologia compreensiva “contrapõe-se à História, que busca a análise e imputação causal de ações” (Weber, 2015a, p. 07), defendendo uma posição investigativa que contemple a compreensão das múltiplas causas e múltiplos efeitos que engendram os eventos, para além de qualquer forma de teleologia (Weber, 2010; 2003). Esta abordagem não se limita a observar e descrever comportamentos, mas procura interpretar e explicar a ação social em termos dos sentidos e intenções dos atores envolvidos. A aplicação prática da sociologia compreensiva pode ser observada em diversas áreas da pesquisa, investigando, por exemplo, como as crenças e valores individuais ou de grupos influenciam o comportamento dentro das esferas religiosa, econômica e política.
Referências Bibliográficas
Schluchter, W. Ideias, interesses e instituições: conceitos centrais de uma sociologia de orientação weberiana. In: Schluchter, W. O desencantamento do mundo: seis estudos sobre Max Weber. Sell, C. E. (Trad. e Apres.), Rio de Janeiro, Ed. UFRJ, 2104a. p. 57-87.
Schluchter, W. Os conceitos sociológicos fundamentais: a fundamentação da sociologia compreensiva de Max Weber. In: Schluchter, Wolfgang. O desencantamento do mundo: seis estudos sobre Max Weber. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2014d. p. 193-225.
Weber, M. A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais. Org. Gabriel Cohn. São Paulo: Ática, 2010.
Weber, M. Conceitos sociológicos fundamentais. In: Economia e sociedade: Fundamentos da sociologia compreensiva. Barbosa, R. e Barbosa, K. E. (Trad.). v1. Cap. 1. 4. ed. Brasília: Unb, 2015a [1921].
Weber, Max. A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais. In: Cohn, Gabriel (Org.). Max Weber: sociologia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2003.
Como citar este verbete:
CARVALHO, Marcio J. R. de. Sociologia Compreensiva: Verbete. In: Enciclopédia Max Weber. 2024. Disponível em: https://www.enciclopediamaxweber.org/%C3%ADndice-geral-de-entradas/sociologia-compreensiva Acesso em: dd.mm.aaaa.