No pensamento weberiano a ideia compreensão de sentido é o elemento basilar para o entendimento das formas da ordem social. É através desta compreensão, por exemplo, que se torna possível uma sociologia da cultura de cunho weberiano que entenda que não é a cultura que impõe seu sentido aos indivíduos, mas, estes — por meio de seus interesses e afinidades eletivas — que atribuem sentido aos elementos culturais. Da própria letra de Weber podemos ler: “[...] Toda reflexão sobre os elementos últimos do agir humano está desde logo presa às categorias ‘meio’ e ‘fim’” (Weber, 2010, p. 15). Portanto, não é de se se estranhar que a compreensão de sentido da ação dos indivíduos (especificamente aquelas cuja finalidade está orientada para o outro, a ação social) seja o núcleo central de sua proposta metodológica. Com este objetivo, Weber elaborou um conjunto de tipos puros de ação social e é importante compreender — coerentemente com sua metodologia de tipos ideais — que esses “tipos puros” de ação são exemplos hipotéticos, portanto não ocorrem na realidade. No mundo da vida, eles ocorrem de maneira imbricada.
Definição
É em Economia e Sociedade, logo no primeiro dos 17 famosos parágrafos dos Conceitos sociológicos fundamentais, que Weber define o objeto de estudo da sociologia: a “ação social”, uma ação que leva em conta o comportamento dos outros e é orientada em relação a eles, sendo a sua proposta de sociologia compreensiva “uma ciência que pretende compreender interpretativamente a ação social e explicá-la causalmente em seu curso e em seus efeitos” (Weber, 2015a, p. 3), de modo que, sendo a ação social dotada de sentido atribuído pelos indivíduos, cabe aos cientistas sociais elaborar a compreensão (Verstehen) por meio do estabelecimento de conexões causais que os possibilitem decifrar este sentido subjetivo do agente da ação.
Diferença entre “ação” e “ação social” e “relação social”
Weber distingue a “ação social” da ideia de “ação” ao considerar que a ação social leva em conta o comportamento dos outros e é orientada em relação a eles, enquanto a ação em si não necessariamente envolve essa consideração. A ação social pode ser explicada como as formas de interação entre indivíduos, desde que esta interação esteja pautada em expectativas que cada agente da ação tem sobre o(s) outro(s). Seja esse indivíduo uma pessoa ou um grupo de pessoas (uma organização social juridicamente constituída, por exemplo) em relação a outra pessoa ou outro grupo de pessoas. Quanto à “relação social”, Weber (2015a, p. 17) a define nos seguintes termos: “Por ‘relação’ social entendemos o comportamento reciprocamente referido quanto a seu conteúdo de sentido por uma pluralidade de agentes e que se orienta por essa referência”. Uma vez apreendido que os tipos de ação social classificam os comportamentos dos indivíduos conforme sentido e finalidade, a ideia de “relação social” se refere à conexão entre vários comportamentos, isto é, pela combinação de “probabilidade” (Weber, 2015a, p. 18) entre os diversos sentidos e finalidades, formando uma trama ou rede de interações e de significados entre indivíduos e/ou instituições.
Tipos de Ação Social
Weber identificou quatro tipos ideais de ação social, cada um com características distintas: i) a ação racional com relação a fins: uma ação orientada por objetivos específicos e racionais, onde os meios são escolhidos com base na eficiência para alcançar os fins desejados; ii) a ação racional com relação a valores: uma ação guiada por uma crença consciente em um valor ético, político, moral, estético, religioso, entre tantos outros possíveis; iii) a ação afetiva: uma ação determinada por afetos ou estados emocionais; e iv) a ação tradicional: uma ação guiada por costumes e hábitos enraizados. Como destacado anteriormente, estes são “tipos puros”, ou seja, tipologias elaboradas para fins heurísticos dentro do esquema metodológico weberiano, que não ocorrem isoladamente na realidade. Tomemos como exemplo a instituição social “matrimônio”. Esta institucionalização social de uma relação particular pode ocorrer por um tipo ou até pela combinação dos quatro tipos de ação descritos acima, a depender da motivação (sentido e finalidade) das partes envolvidas.
Importância e aplicações
Dentro do sistema teórico de Weber a ação social é uma categoria analítica de relevo porque permite a compreensão das motivações dos indivíduos e das instituições sociais em suas interações e, por seu fundo hermenêutico, não se limita às ciências sociais e tem aplicações em várias áreas do conhecimento, da educação ao direito, da análise histográfica à teoria organizacional.
Referências Bibliográficas
Weber, M. Conceitos sociológicos fundamentais. In: Economia e sociedade: Fundamentos da sociologia compreensiva. Barbosa, R. e Barbosa, K. E. (Trad.). v1. Cap. 1. 4. ed. Brasília: Unb, 2015a [1921].
Weber, M. A “objetividade” do conhecimento nas ciências sociais. Org. Gabriel Cohn. São Paulo: Ática, 2010.
Como citar este verbete:
CARVALHO, Marcio J. R. de. Ação Social: Verbete. In: Enciclopédia Max Weber. 2024. Disponível em: https://www.enciclopediamaxweber.org/%C3%ADndice-geral-de-entradas/a%C3%A7%C3%A3o-social Acesso em: dd.mm.aaaa.