Definição
A análise de Max Weber sobre o conceito de “poder” se diferencia por se tratar de uma análise sociológica, ainda que ele trabalhe este conceito no contexto das estruturas políticas modernas. Para Weber (2011), o poder não se restringe ao simples controle ou ao uso coercitivo da força e da violência, mas envolve a capacidade de uma estrutura política garantir mando e obediência. Ao discutir o Estado moderno, Weber (2010, p. 187) enfatiza o papel da força, uma vez que “todas as estruturas políticas usam a força, mas diferem no modo e na extensão com que a empregam ou ameaçam em pregar contra outras organizações políticas”, contudo ele também distingue o uso da força de outras formas de poder, como a dominação legítima (Weber, 2011).
Coação ou dominação
Para Weber (2011), o poder pelo poder pode ser entendido como uma capacidade de impor vontade sobre outros, mesmo diante de resistência, por outro lado, em qualquer estrutura política a legitimidade é fundamental para sustentar a dominação e, nesse sentido, Weber distingue o poder impositivo (exercido pela coação física) da dominação legítima. A característica distintiva do Estado moderno, segundo ele, é o “monopólio legítimo do uso da violência dentro de um território” (Weber, 2011, p. 68), o que lhe confere uma posição única em relação a outras organizações sociais e políticas. Esse monopólio se refere à capacidade de usar a força física e à legitimidade que o Estado possui ao reivindicar tal poder. Na prática, isso significa que, mesmo quando outros grupos podem ter o desejo de exercer força, como no caso de milícias ou grupos insurgentes, o Estado é a única entidade que detém o direito reconhecido de empregar violência para manter a ordem.
Elites políticas e burocráticas
Dentro das estruturas de poder, especialmente no Estado moderno, Weber (2010) demonstra que as estruturas políticas e as estruturas burocráticas ocupam, de modo geral, uma posição estratégica de tomada de decisão política e sua execução e estão intrinsecamente ligadas ao Estado moderno enquanto aparato administrativo, o que possibilita que a burocracia estatal trabalhe na manutenção da ordem e na implementação das decisões políticas, conferindo ao Estado um caráter formalizado e impessoal, contudo, Weber alerta para os perigos dos interesses das elites políticas e das elites burocráticas, que pode tornar o sistema rígido e ineficaz. Weber (2011) alerta que a burocracia, estruturada em uma lógica racional-legal, é fundamental para a eficiência do Estado, no entanto, esse aparato administrativo também apresenta desafios para a dinâmica do poder, pois burocratização pode, por exemplo, gerar uma concentração de poder nas mãos de poucos (elites), dificultando a renovação necessária do Estado, e destaca que estas elites políticas e burocráticas desempenham um papel de entrave ou avanço na administração estatal e na implementação das políticas públicas, daí a necessidade de renovação de lideranças políticas.
Poder e prestígio
A busca pelo prestígio é outra dimensão importante das estruturas do poder e Weber (2010) considera o prestígio é uma força motriz nas ações das Grandes Potências políticas, especialmente quando essas potências se envolvem em guerras ou conflitos. Weber observa que “a luta pelo prestígio concerne a todas as estruturas específicas de dominação e, portanto, a todas as estruturas políticas” (Weber, 2010, p. 188). Isso reflete a importância da imagem e do poder simbólico que uma nação ou governo pode possuir, o que muitas vezes se traduz em influência geopolítica e o desejo de prestígio e reconhecimento internacional pode levar as elites políticas a adotarem comportamentos expansionistas, mesmo quando não há ganhos territoriais ou econômicos diretos.
Estados expansionistas e isolacionistas
Weber também explora a distinção entre Estados expansionistas e Estados isolacionistas. As estruturas de poder, em Estados expansionistas, tendem a se focar na conquista e no controle de novos territórios, usando a força como um meio de aumentar sua influência. Já os Estados que adotam uma postura isolacionista, como a Suíça, exemplo adotado por Weber (2010) preferem uma posição de neutralidade, geralmente garantida por Grandes Potências (Estados expansionistas), preservando sua soberania sem recorrer à violência, já que a neutralidade suíça se sustenta principalmente porque o Estado não é obrigado a participar de conflitos expansionistas e, portanto, não representam concorrência aos países expansionistas. Estados isolacionistas, deste tipo, podem até, eventualmente, intervir politicamente nos seus territórios vizinhos com apoio das Grandes Potências e garantir expansão e exploração econômica dos países estrangeiros sem despertar risco para os Estados expansionistas “porque não despertam o receio de que a intervenção política possa seguir-se à intrusão econômica” (Weber, 2010, p. 201).
A guerra como expressão de poder
Por fim, Weber (2010) argumenta que a guerra é, frequentemente, resultado de conflitos externos, territoriais ou econômicos, mas, também, de dinâmicas internas de prestígio e dominação e, neste sentido interno, o fenômeno da guerra como expressão de poder é fortemente vinculado à necessidade das elites políticas e militares de criar possibilidades para si mesmas e para as gerações futuras, através da expansão militar, criando oportunidades de ascensão social e aumentando suas chances de obter cargos e promoções dentro da estrutura estatal.
Referências Bibliográficas
Weber, M. Estruturas do Poder. In: Weber, M. Ensaios de sociologia. Gerth, H. H.; Wrigth–Mills, C. (Orgs.). Dutra, Waltensir (Trad.). 5. ed. [reimp.]. Rio de Janeiro: LTC, 2010c. p. 187-210.
Weber, Max. Ciência e política: duas vocações. 18. ed. São Paulo: Cultrix, 2011.
Como citar este verbete:
CARVALHO, Marcio J. R. de. Poder (estruturas de): Verbete. In: Enciclopédia Max Weber. 2024. Disponível em: https://www.enciclopediamaxweber.org/%C3%ADndice-geral-de-entradas/poder Acesso em: dd.mm.aaaa.